Licenciatura do amor
12:08A formação académica que levamos ao longo dos nossos anos de juventude, acompanham muito bem a nossa desenvoltura como seres humanos. No meio de tanta tese, leitura, prática no campo, apresentação dos projetos propostos nas cadeiras, ganhamos a noção do que vamos fazer. Especialmente do lado profissional. Depois, é com esta aprendizagem toda que anotamos as diferenças no nosso comportamento perante as adversidades da vida. Deixamos de ser tão impulsivos e sensíveis. Deixamos de ter aquela ingenuidade irritante do género - és virgem não sou peixes - e passamos a escrever as páginas dos nossos dias com outra sabedoria.
Mas, eis a minha questão existencial de hoje: se a formação académica serve para nos ajudar a amadurecer e a entrar no mundo profissional, porque não temos ao longo da vida uma formação para se amar? É suposto ver alguém, gostar à primeira vista e bater com o nariz na porta? Ninguém nos prepara para isso, por mais que nos ensinem a ter paciência e a não ceder tão facilmente.
Acho que devíamos ter aulas desde a primária com uma disciplina: Amor. E pronto. Era bom, porque explicavam desde pequenas que o amor, como disse o MEC, é fodido. Ensinavam-nos que príncipes não existem, que nem sabem montar cavalos, que a maior parte das vezes vamos gostar de quem não gosta de nós, que nos deixam a falar sozinhas, que nos ignoram também, que eles não estão cá para sempre, vão-se alternando entre vários supostos príncipes até que te baralhe todo o sistema nervoso. A cadeira depois podia-se complicar, ficar um pouco sem nexo até, contar-nos que muitas vezes ficamos à chuva à espera, que muitas vezes o amor foge, é ignorante e nem aquece assim tanto. Que vais chegar a uma idade em que deixas de acreditar nos príncipes, porque é o curso natural da vida até que um dia, um alguém esfarrapado e ar perdido te conquista, sem mais nem quês. Simplesmente assim. Nessa altura, já teria na mão a licenciatura do amor e saberia ao certo como me comportar, mas acima de tudo, saberia o que é mesmo, amar.
Sem esta educação, não sabemos nada. Não sabemos o que sentimos. Como sabemos se é amor se nunca ninguém nos apresentou? Mais tarde com o canudo na mão, poderíamos fazer especializações: Mestrado em Relações Monogâmicas, Pós-Graduação em Dividir o Amor com outras Mulheres, Doutoramento em Como Manter o Príncipe que não é Príncipe para Sempre... Era mais lógico. Mas não. Temos que gramar com esta tendência em ser um autodidata nesta matéria porque por mais avisos que nos tenham dado, o melhor mesmo é subir ao topo dos sentimentos sozinhas.