A permeabilidade nostalgica é vigente no cansaço mental desempenhado pela personagem de Mavis (Charlize Theron). Facilmente entramos nesta onda carismática de recuperar o passado, ao som de 4NonBlonds, perdido algures nos anos 90. Convencida de ter a missão de recuperar um amor entregue hoje à paternidade e casamento feliz - Buddy -, a princesa sofrida faz sobressaltar o seu lado neurótico ao arrancar cabelos,  no vício perfurado de bourbon destilado de Matt, o amigo geek que serve de consolo, neste reencontro à sua terra natal, Mercury. E ainda, na frustrante escrita fantasma do qual não usufrui grande fama, inspirada pelos programas televisivos como as Kardashians.
Talvez Diablo Cody e Jason Reitman só façam sentido se referirmos o filme Juno, desta vez a união resultou numa personagem mais densa e numa película cuja comédia de cinema moderno é rebelde, intrigante e quiçá horripilante, um sabor agridoce que faz esboçar sorrisos incomodados.
Se em Juno o romance termina com a pessoa errada a ser redirecionada para a certa, aqui esta subversão torna-se mais sinuosa. Não vou entrar em grandes detalhes, apenas refiro que nem sempre o que se nomeia para prémios tem mérito. Charlize consegue transformar a personagem de menina mimada e popular, imbuída de futilidade que ainda na vida jovem adulta o pratica, vivida nas paragens ao KFC para umas batatas fritas e pernas de frango, numa perplexa realidade de quem vive cansada. E mais uma vez, a banda sonora indicada, faz sobressair frases escolhidas a dedo para a personagem principal, ora não fosse a razão de The Concept - Teenage Fanclub passar a sua malha perante as estáticas imagens. Um filme de graça. Ou talvez, somente, o ridículo do cansaço nos faça rir.

Phillip V. Caruso/Paramount Pictures

Já existe, e às tantas, há mais tempo do que possa saber, uma forma de converter as cassetes de vídeo em ficheiros de computador, e nem sei bem qual a melhor terminologia, talvez mp4. Não tenho grande memória do  passado, culpa do pouco espaço que contém o meu cérebro, passa mais tempo a absorver novidades do que a recordar antiguidades. Tenho sempre de fazer aquele esforço insano de imaginar a minha infância, se bem que a sensação que me dá, é que fui uma criança feliz. Talvez por isso queira pegar na memória alocada naquela fita de cassete e rever esses momentos. Aposto que era muito sábia. E dizia coisas do género Mami ele não pode ser teu pai, porque é meu avó. Coisas que fariam sentido no meu pequeno espírito desenvolto. E também acho possível encontrar uma parte nesses vídeos da minha fase medo de Pai Natal, não sei se era da barba branca, mas devia ser, e devia chorar feita tola ao seu colo enquanto pedia humildemente uma nova barbie cor de rosa. A minha primeira bicicleta. Em que o meu pai vinha por detrás do pequeno monte do nosso jardim, e eu agoniada porque se tinham esquecido do meu aniversário, pudera com três dias de diferença da minha irmã, normal que se esquecessem, mas lá viria o meu pai, jovem, sorridente, com a bicicleta entre as mães e eu radiante, sorridente, a pedalar pelos montes e vales abaixo. E a minha cara de compaixão quando encontrei o passarinho morto, coitado, caiu à primeira, talvez tenha assistido a esse suicido sem querer,  do passarito, e enterrado nesse mesmo jardim.
As brincadeiras com todos. Os dias de circo e os dias de Roxette, banda da qual não pude fazer parte, porque era das mais novas, sempre fui. Ainda assim, de certeza, que essas cassetes têm uma parte da fita comigo a bater-lhes palmas e a aclamá-los. A nobreza da vida em cassetes e eu sem conseguir recordar. O jeito que me daria...

Porque na rua os números também existem e têm força de expressão. Das contas de Lee Jeffries para o mundo através da lente.

J'ai marqué peu à peu l'atlas blanc de ton corps
avec des croix de flamme.
Ma bouche, une araignée qui traversait, furtive.
En toi, derrière toi, craintive et assoiffée.

Histoires à te raconter sur la berge du crépuscule
douce et triste poupée, pour chasser ta tristesse.
Quelque chose, arbre ou cygne, qui est lointain, joyeux.
Et le temps des raisins, mûr et porteur de fruits.

J'ai vécu dans un port et de là je t'aimais.
Solitude où passaient le songe et le silence.
Enfermé, enfermé entre mer et tristesse.
Silencieux, délirant, entre deux statues de gondoliers.

Entre les lèvres et la voix, quelque chose s'en va mourant.
Ailé comme l'oiseau, c'est angoisse et oubli.
Tout comme les filets ne retiennent pas l'eau.
Il ne reste, poupée, que des gouttes qui tremblent.
Pourtant un chant demeure au coeur des mots fugaces.
Un chant, un chant qui monte à mes lèvres avides.
Pouvoir te célébrer partout les mots de joie.
Chanter, brûler, s'enfuir, comme un clocher aux mains d'un fou.
Que deviens-tu soudain, ô ma triste tendresse?
J'atteins le plus hardi des sommets, le plus froid,
et mon coeur se referme ainsi la fleur nocturne.

Vou navegar a velocidade de cruzeiro, roubando a ordem lógica dos ponteiros. Não me interessa chegar agora nem daqui a pouco, nem se quero chegar. Coisas que nos impõem, horários de ida e de chegada. Não me apraz seguir um compêndio de ideias predefinidas nem tão pouco obedecer às ordens universais da moralidade. Ser eternamente. É o que ocupa o estado da mente, a cada dia. Um de cada vez e todos como se os últimos.

«eu preciso do mar porque ele ensina-me.»
Pablo Neruda

Há dias de cão. Há dias, em que por mais que te esforces e te queiras superar, não o consegues. Uns dizem que errar é humano, eu respondo que nunca há uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão.

Walking With Giants by Blondfire

- És solteira?
- Não... Sou ambígua.

Talvez a demagogia da música me entorpece os sentidos, e faz-me desmaiar o bom senso. 

Este fim de semana vou-me enfiar numa discotexas perdida no tempo. Vou revestir as paredes com novas histórias, calibrar a pista de dança com movimentos bruscos de quem não se coordena com o tempo musical. Vou entornar por diversas vezes o conteúdo ilegal do meu copo, escancarado no chão, deboche aos euros despendidos, provocado por um desmesurado desequilibro emocional. Vou prender no alto os cabelos, que tanto aquecem o pescoço, aumentando a temperatura da pele despida, desenhada pela blusa recortada. Vou trocar olhares, por diversas vezes, ao ponto de confundir os rostos de quem me observa. Vou enxovalhar os maus espíritos que se colam, não largam, não percebem que a menina dança, mas sozinha. Vou seguir o cérebro, guiado pelo GPS do coração. De braço no ar, a fustigar os espantalhos. Que se arrede o caminho da solidão, estou de passagem.

A minha avó ligou-me hoje cedo, cedinho, já estava eu com um pé no Parque das Nações. Diz-me oh minha netita está tanto frio, é que estou aqui quentinha na cama e tive pena de ti.
Com uma avó assim...

Contar todos os meus fios de cabelo.
Ver o Pai Natal magro.
Comer o pão que o diabo amassou.
Queimar uma nota de 500€.
Viver no Canadá para ser deportada.

Porque é que as fashionistas aparecem todas nos seus blogues com a cabeça inclinada e com a mão no cabelo? Até punha aqui algumas fotografias para verem o padrão, mas dá trabalho...