Capítulo I

10:59

Primavera. Estação daquela treta toda de que o Sol começa a aquecer a terra, as flores florescem obviamente, andorinhas aqui outros passarinhos ali, espirros para os alérgicos e tudo a quanto obriga. E, por via das dúvidas para quem não sabe, é a estação do novo amor. Por ser uma época de renovação. Só por isso.
Matilde. Sim, é ela. Pelo menos é assim que pensa Afonso. Tem que ser ela. Ao fim de tantos anos, sem nunca considerar essa hipótese de alguma vez a voltar a encontrar, é ela. O cabelo está comprido mas os caracóis loiros não enganam. É. Tenho a certeza, pensa Afonso.
Lá avança, esguio como sempre foi. Passos largos e trapalhões, os jeans quase que enfiados por baixo dos ténis rotos e gastos pelo andamento. Mas o sorriso dele também não mudou. Dentes é o que não lhe falta para preencher a cara encoberta de barba. Tenho de saber, vou lá. Atrevidaço, cai-lhe aos pés. Não era suposta esta entrada a pés juntos mas o destino assim quis. Já que a trouxe de volta à sua vida, a sua querida paixão da primária, tinha que ir lá perguntar: Matilde, queres namorar comigo? Sim, não talvez (eram as hipóteses do recadinho que lhe deu no intervalo do último periodo do quarto ano). Sem resposta, também devia ser considerada mas quem naquele tempo quem se iria lembrar que uma questão como essa poderia não ter resposta. Pensa de novo, és uma palerma Matilde, até hoje não me respondeste.
- Matilde... (sai-lhe a voz torcida e meia rouca por culpa das anginas e não dos nervos).
- Sim...
- Sou eu, o Afonso...

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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