Não sei como o fazer. Dou voltas e voltas, mexo e remexo no fundo do baú à procura. Ponho coordenadas no GPS com uma leve esperança de me ajudar. Espreito por janelas indiscretas. Leio e releio tudo o que me aparece à frente mas nem assim consigo ter uma ideia mesmo original. E queria. Como queria.
Queria inventar qualquer coisa misteriosa, intrigante, nunca antes vista. Queria ser uma Mary Pickford. Queria ser uma Mary Quant. Queria ser alguém que no futuro fosse recordada pelo seu passado, pela ideia brilhante que teve.
Só que já não dá. Esgotámos o mundo, ocupámos todos os átomos. Não sobra nada que possa ser criativo. E nem posso ganhar a vida a atravessar pessoas às cavalitas quando há cheias porque no Congo isso acontece há tempos sem fim. Nem posso inventar um elefante voador porque quem o criou chamou-o de Dumbo, assunto arrumado. Já nem posso inventar um estilo porque esses há aos pontapés, esquecidos e retocados mais à frente.
Sobra-me somente a invenção da minha vida. Posso pintar um quadro todos os dias, vestir uma década, subir as estrelas, calçar areia... Qualquer coisa. Mas tenho de ser criativa.
E como ter uma cabeça sempre a mil? Quem tiver a resposta que não a conte. Invente.