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Gostei... embora considere o final ingénuo, Sofia Coppola regressa ao seu registo seguro após Maria Antonieta. Aliás, volta tão atrás que a vida das personagens estão de novo mergulhadas neste espírito de artista de cinema, boémio e excêntrico. A personagem delicada e loira, Cleo, dá autenticidade à história, comum como qualquer outra, imbuindo Johnny Marco de se tornar pai, mais do que meramente biológico. A evolução da história entre pai e filha é gradual e de uma sensibilidade cativante. E é neste ponto que se denota o olhar de Sofia, mais maduro e marcante, que foge dos enquadramentos rígidos e frontais de Lost in Translation para dar lugar a uma colocação subtil das câmaras em diagonal, muito discreta como se fossemos parte integrante do enredo.
A pequena Elle Fanning deslumbra pela sua espontaneidade, e mesmo tendo poucas falas, desenha a sua personagem de forma ideal, através dos delicados gestos que articula seja a preparar o pequeno-almoço ou a bebericar chá ou café debaixo de água com o pai. Stephen Dorff abraça aqui um dos melhores papéis da sua carreira, nesta personagem vaga e perdida no lugar certo, mas que procura o tal je ne sais quois de complementaridade para a sua vida.
As imagens pensadas por Sofia são mais do que auto-suficientes para contar a história, como quando as duas personagens se encontram à beira da piscina, onde em primeiro se abre a imagem e depois a câmara traça o um zoom-out acompanhada apenas por I'll Try Anything Once dos The Strokes, e consegue assim, eternizar os ténues laços de paternidade e assombrar com uma sensação carismática de plenitude.
O final é ingénuo na minha humilde opinião por roubar a Johnny tudo aquilo que o torna numa pessoa real e não apenas numa personagem cinematográfica. Ainda assim, creio que na próxima longa metragem Sofia Coppola vai continuar a justificar o Leão de Ouro ganho em Veneza.

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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