homenagem aos altruístas

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Sempre sonhei com a minha morte. Imaginei-a, muitas vezes, demasiadas vezes, ainda assim de todas essas vezes, tinha um sabor a tragédia esmagadora e um heroísmo inerente. Sempre soube que não iria morrer vítima de doença prolongada, sozinho em casa esquecido, velho ou de morte natural. Desde sempre projectei o meu final, em grande, como cena de teatro dramática, de arrepiar a espinha e, mesmo assim, comovente.
O mar lá em baixo estava bravio, fúria dos deuses, esmurrava as rochas, impunha a sua raiva, espumava-se, debatia-se e quis contrariar a nossa vontade. Sentamo-nos nas rochas. Senti-as húmidas, salgadas, escorregadias. Tão escorregadias que arrancou um de nós, fê-lo deslizar pelo enredo, engoliu-o mar adentro, enraivecido pela desobediência de vozes sábias. Quisemos testar a nossa ignorância. Descalcei-me e invadi a privacidade desse monstro azul. Sugou-me. Atirou o meu corpo entre correntes, arrastou-me sem dó nem piedade. Não pude mais respirar. Quis, pedi, exigi à natureza que me transformasse, me fizesse guelras e me desse escamas de peixe. Juntar-me ao inimigo. Mas não. O mar, afogou-me. Cortou-me a vida e deixou o meu corpo submerso, preso, controlado para jamais esquecer que a natureza tem poder.
Dizem agora, que altruísmo. Atirar-se ao mar para salvar um amigo. Mas eu sempre soubera, hei-de morrer jovem, despreocupado, livre, trágico e no final, um herói. Mártir.

Cortesia arrais-do-mar.blogspot.com

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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