dá corda ao tempo

23:59

Na minha terra havia muitos relógios. Chocolates, vacas, queijos e relógios. Muitos relógios. Lembro-me que primeiro aprendi a atar os atacadores dos sapatos e depois seguiu-se o relógio. Quis um daqueles já electrónicos, o meu pai foi decisivo na escolha «tens de aprender com gente grande». Espetou-me o relógio na mão e eu automaticamente coloquei-o no pulso direito, que mania é essa de que os relógios só se usam no pulso esquerdo, até para isso há etiquetas de modos a que eu sempre achei relevante ser do contra, não fosse eu do signo de peixes, habituada a nadar contra a corrente, tem muito mais graça. E passei a olhar para dois palitos que andavam às voltas, e um terceiro quase transparente de tão fininho que era, certamente passava entre a chuva, indicando números, e vá lá que até dez já sabia contar apenas em alemão, português só mesmo os meus pais é que falavam, eu balbuciava figiríficos e coisas afim, mas as horas, eish... essas não me escapavam. Expedita como sempre fui, dominei em três tempos a pontualidade helvéctica, ainda hoje somos unha e carne, venha o diabo que vier ninguém me bate quando se trata de chegar a horas. Escusado será salientar a quantidade de vezes que fico pendurada, à seca, à espera, envelheço, juro ainda para mais porque os portugueses no geral não têm a mínima noção nem respeito pela horas, coisas profundamente enraizadas, dificilmente se irá alterar. Mas estava eu a dizer, o tempo passa, claro está que o relógio é o seu maior registo, só sei que nos tempos áureos da faculdade por escrever demasiado à mão e sendo eu destra trocar o relógio de lugar não dava  por ir contra os meus princípios de ser do contra, então deixei de usar relógio, acabei por dominar as horas intuitivamente, ou melhor, passo a explicar basta colocar o dedo indicador direito apontado para o céu que vos digo as horas, consigo vê-las escritas no sol, assim sem mais nem menos, a cru e a nu.
E estava eu a falar de relógios. No ano passado dominei um desses da Swatch, reedição dos relógios plásticos, que gosto, confesso, tenho o encarnado, vá-se lá saber porquê, bem porreiro, no verão fica o máximo com o meu bronze sueco e neste caso jamais suíço, e pronto, foi-se o calor e eu tirei o dito do pulso e há pouco fui ali ao centro comercial e tendo passado pela ourivesaria deparei-me com um relógio de bolso ao qual se dá à corda, e caramba, ter um assim é genial.


Não há por aí algum low-cost deste tipo de relógios? Eu acho que vou propor isto à Swatch, já que deixei de os usar no pulso. Coisas minhas... Manias, diria eu, mas pronto... fica a ideia.
Entretanto, está na hora do Carnaval. Aliás faltam 60 segundos.

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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