Menti-te. Ou melhor tu sabias que o faria só nunca arranjei a coragem de te entregar. Escrevi-te sim, no final do nosso curso numa das minhas fitas vazias. Escrevi-te porque sabia que não irias alinhar na bênção e eu queria que perpetuasses os nossos momentos, e para isso, dedicar-te algumas palavras seria um pouco desse sabor.
Hoje as palavras não me saem com a mesma paixão. Essa, a platónica, a que nunca concretizamos no plano físico desvaneceu-se para dar origem aquela que é a minha amizade mais pura, entre um homem e uma mulher. Há quem não acredite nisto, que não seja possível, por haver determinados momentos em que se quer atravessar os limites e invadir a intimidade. Mas para mim essa falta de crença pouco me importa. Tenho-te aqui, à distância, em Barcelona, na América do Sul, perdido algures nas tuas viagens, em qualquer parte do mundo em qualquer momento, sei que te tenho.
Cruzar-me contigo no aeroporto ou algures a vaguear nas ruas de Lisboa revela-me a sorte de me receberes de braços abertos, os quais me encaixam em ti num tenro abraço de saudade, de amor, de amizade, de tudo o que possa existir. Sem pretensões, sem segundas intenções. Ali naquele momento revivemos tudo o que nos trouxe até aqui. Não é por mero acaso que te olho como olho. Não é por mero acaso que falas de mim como falas.
Haja tempo pela frente, haja uma maior condensação deste laço, haja sempre o teu sorriso e apoio. Espero por ti, em qualquer parte. Ainda bem que não percorremos caminhos que não estavam destinados. Aqui te tenho, e tu, nas minhas palavras e gestos não me perdes.
Pouco me rala o que os outros possam pensar. Quero lá saber quando me dizem enrolem-se logo de uma vez. Sempre que te encontrar hei-de de te agarrar, abraçar, encher de pancadinhas de amor, chatear, dar na cabeça, sobretudo a não aprovar as mulheres que te arrastam asa (e se um dia isso acontecer, tens de perceber que é um processo demorado e doloroso porque quero manter esta nossa amizade assim perfeitinha tal e qual como é).


(J. estas não são as palavras da fita mas não quero estar em falha contigo. Acima de tudo, não preciso de te escrever para saberes o que significamos um para o outro. Mas vi pelo teu ar a decepção de o não ter feito. Desculpa. A propósito - és uma merda - mas gosto de ti mesmo assim).