Pela matemática da minha cabeça deve ser mais ou menos a isto que corresponde a tua idade. Cerca de 10 000 dias. É muita fruta!E eu, vou atrás...É também, mais coisa menos coisa, a história da nossa irmandade. Para além de sermos muito iguais, somos muito diferentes. Para além do ano e dos três dias que nos separamos no B.I, a maior parte das vezes fui eu que assumi o papel de irmã mais velha já que eras rebelde demais para lidar com isso. 
Foi mais coisa, menos coisa que um dia Marie von Eber-Eschenbach se inspirou e se lembrou de dizer que "na juventude aprendemos, na velhice compreendemos" e tenho para mim que com dez mil dias, estamos entre a aprendizagem e a aquisição de alguma compreensão. Já não tens idade para ser rebelde, mas também não tens idade para ser tolerante com tudo. Estás para aí nesse limbo e não sabes para que lado tombar. Seja como for, o que te tenho a dizer é que não faz mal... Já tens um curso na mão, emprego internacional no curriculum, viagens no passaporte, quilómetros em passeios entre Lisboa e a periferia ou outro ponto geográfico nacional, imensas velas assopradas, toneladas de roupas e sapatos, um quarto por decorar, um portátil original onde não entra o Enter, telemóveis de última gama e todas as mariquices associadas. 


Esta lista não fica por aqui. Tens de incluir igualmente uma infância em terras alpinas, entre skus no monte da escola e descidas de skate na rampa da garagem, um boné com a bandeira dos E.U.A que fazias questão de não tirar, uma personalidade traquina, uma irmã francamente inocente que caía estatelada nas chantagens emocionais - ou dás-me o boneco ou eu corto os meus dedos - jogos de futebol, mania das motas e dos carros, tendência para o bricolage (característica proveniente do papi), mudança de idade, primeiros amores e desgostos, o crescer de um lado feminino escondido que te fez libertar na mulher que és.


Podia aqui elaborar uma história cronologicamente correcta. Podia aqui contar a história da tua vida, mas ainda assim, não dava para justiçar com as tamanhas façanhas que tive o privilegio de acompanhar. Aqui, neste espaço, as palavras são poucas. Prefiro dizer-te assim - que venham mais dez mil dias todos comigo ao teu lado que hei-de sempre lembrar o espaço vazio que fica quando não estás.


Este era o segundo presente para ti. 
O primeiro já o tens nos pés.
Da tua Sis