Um dia, uma certa amiga, uma de vocês, pediu-me conselhos sobre o amor. E eu, cá dentro soltei uma gargalhada brava e pensei para os meus botões - ela não sabe onde se está a meter - e continuei a rir. De todas as pessoas do mundo, sou a que menos sabe sobre o amor.
Mas mesmo assim vesti a camisola de erudita e despejei um rolo de papel higiénico repleto de teorias freudianas e shakespearianas com o intuito de orientar a pobre perdida por amor. 
Devo dizer que foi um fracasso total. Como aqueles passarinhos que se atiram do ninho (porque só assim aprendem a voar) e esbarram com o bico no chão. Analogia perfeita para o meu cargo de conselheira. Não os sei dar. Principalmente quando toca ao tema amor.


Eis a explicação. O amor sempre foi algo garantido na minha vida. Sempre o tive, da parte da minha mãe, do meu pai, da minha irmã, da minha avó, até dos meus periquitos enjaulados. Até posso dizer que as minhas coisas materiais também nutriam sentimentos por mim. Porquê? É lógico. Parti do princípio que tratá-los bem seria uma boa forma de ser recompensada. Com isto, o tratar bem significa tratar com amor. Foi assim algo inerente. E lógico, que não me deu dissabores.
Partindo desta minha elaborada convicção, fico sem nexo quando tento ajudar nesses meus conselhos quase de vidente mas sem orientação. Se existe amor, tem de dar certo. Demore o tempo que demorar, leve a luta que levar. Se existe amor, este nunca é insuficiente para nos recompensar. A vida tem destas coisas e eu sempre as recebi de braços abertos. 


Agora, essa amiga, uma de vocês pediu-me ajuda. Foi deixada, abandonada, trocada, vencida, humilhada. A resposta mais honesta que posso dar é que não sei que amor é esse. O amor que conheço, que sei que existe, não destrói, não magoa, não fere, não faz chorar. Cura. Talvez aquilo que nos surja no caminho seja um desafio, criar uma dita capacidade que faça distinguir o amor da ilusão. Talvez, tudo aquilo foi uma ilusão. Quisemos convencer-nos de que aquilo que estávamos a viver era esse amor, porque é o único que conhecemos, e não uma extensão da nossa vontade de amar.


Talvez andemos todas erradas e cansadas. Talvez a vida ande demasiada ocupada para nos ensinar outro tipo de amor. O amor que conheço não quebra. O amor que conheço recompensa. E isso, faz de mim, uma terrível conselheira sobre o amor. Porque o amor em mim, não tem explicação, não tem razão. É amor cão.