Chuva de cor

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Quero dormir ao som da chuva e do piano, despida de medos e envolta em enredos. Pequenas histórias sussurradas ao ouvido, partilhadas ao espírito e perpetuadas no eco do coração. Quero um pouco desse aquecedor de almas, que conforta e embala tal bebé em ventre de mãe, mão de proteção e mão de paixão.
Procuro disso tudo um pouco, todos os dias, ao beijar o sol, a agarrar o mar e a entregar-me ao ar. Em todas essas reservas quânticas pequenas partículas de vida e nelas, um pouco de ti. Piso a areia. Caminho contigo. Colho uma flor. Devolvo-te amor. Vou indo, ao som da chuva que afaga o chão e diz-me não às eternas memórias de algo que foi sendo construído e aos poucos diluído em milhares de gotas de água e espalhadas com mágoa, pelo rosto de um amor-paixão que acaba em desilusão.
Não prescindo dessa realidade, vivo-a, repetidamente, em mim. A pequena hipótese de sentir este tudo-nada, que é mais que tudo no mundo dos vagos, dos amargos e dos oprimidos, dos negados e renegados. Quero. Só um segundo dessa água que corre, do som que foge, das palavras sentidas e dos gestos aguerridos com devoção. Quero. Seja como for. Abençoada seja a vida. E a água que corre. Que devolve cada momento ao mundo. E destrói num segundo. Que faça tudo valer a pena, que faça querer mais que nunca nutrir o chão desse amor vão que por breves momentos, termina com os intentos, e oferece de mão beijada os rebentos de quem é sedento de amor, amor sem dor, amor, amor, amor, amor. Sem cor. 

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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