madrid. encantada, és ridicula
10:33A definição veio de um madeirense e aplicado, fora de contexto, Madrid está entre o nada o qualquer coisa. Despreocupada não adianta acordar muito cedo, como os restantes europeus, rígidos nas horas. A movida começa por volta das dez da manhã, com um intervalo reservado à siesta. Verdade seja dita, a meio da tarde, com alguns quilómetros nas pernas, essa ideia de descanso seduz. A teatralidade da capital, é tão exagerada, que os seus edifícios monumentais arrancam um cansaço na observação. O mesmo perpetuo nas madrilenas, Loca ao ritmo da Shakira, mascaradas para os eventos noctívagos, sempre com a mesma motivação, como se fosse a primeira vez. Têm, incansavelmente, o dito salero. O burburinho de fundo, seja nas ruas ou na arte das tapas de vozes em dó maior, torna-se num ingrediente indispensável para a característica central da cidade: os seus habitantes, quando saem do trabalho, não vão para a casa amargurados com o dia, param antes na calle, para conviver. Esta prática, a de ingerir petiscos envoltos de álcool, é antes histórica, não fossem os militares controlados do reinado de Filipe II - deles, não o nosso - perder a postura de proteger a villa.
Frenética. Mexida, extenuante. Tudo é em grande escala, talvez nas palavras arquitectónicas da minha irmã, ali estamos a 1/500 na absorção da cidade. Os edifícios são cartazes publicitários, com a sua excessiva iluminação - sorte a deles não terem uma empresa chamada EDP, porque a conta seria certamente bonita -, compõem esse cenário que, honestamente, me deixou encantada. Não tive pescoço nem pernas para mais, dois dias incluíram programas culturais, ainda fico boquiaberta com Guernica, uma coisa é conhecer a pintura nas aulas de história, outra é ter que vivenciá-la, naquela dimensão ali escancarada no Reina Sofia. Palácios à esquerda, museus à direita, jardins em frente, calles recheadas de vida à minha espera, no final de tarde, com una copa na mão.
Creio que a siesta é a responsável por este formigueiro madrileno. Aliás, tão responsável que me sublinhou a ideia de que o conservadorismo é somente português, nós aqui na ponta ainda estamos a anos luz de qualquer outra evolução (essa do casamento homossexual é criança), porque ali, na capital vizinha, não há mulher que resista nem homem que não insista. A desenvoltura sexual sobe paredes no Gabana e não só, qualquer outro espaço de diversão serve de mote. Atentas jovens enamoradas, se o vosso dito for a Madrid, certamente que sabe encaixar-se neste à-vontade de beijos roubados. Eu cá fui e voltei descansada, e lá esta, ridiculamente encantada.