Sismologia do veneno
21:49O frio sobe-me pela espinha. Queima de tão quente que vai. Insistes no teu beijo carregado de nada, gélido, distante e pregoas aos sete cantos do mundo que é a tua velha jogada. A suavidade do toque estremece a minha pele, arrepia-se à medida que te aproximas. És um fosso de mistério, tentativas usurpadas de um calor que nunca te pertence. Vigio a agilidade do teu olhar quando te correspondo. Jamais te descais, mantens sóbria essa vontade de seres um pedaço de natureza por explorar, agarrada a um qualquer rochedo imóvel. E sobe-me pela espinha esse frio que aquece, que destrói a utopia de uma realização pessoal, assente na vadiagem de uma alma sadia, sedenta de beber o veneno sôfrego. O teu veneno. Que corrói no corredor dos beijos clandestinos, entre paredes inócuas, trémulas à tua passagem. Estão bambas, como eu para o vinho.