Jinguba

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Eu nunca falei do Jinguba.
Ultimamente leva-me a crer, por mera alucinação ou insónia induzia por rinite, que a sua alma animal me visita com frequência. Todos tivemos a fase do cão, do gato não porque sou alérgica, do cágado, porquinho da índia enfim, bicharocos de estimação para enfeitar a vida. Enquanto cada um teve um desses bichos, eu tive um animal. O Jinguba.
Encontrei-o num fim de tarde típico de Montargil. Estava desprovido de mãe. O pai fugira sem assumir a paternidade. Apoderou-se de mim um sentimento de quero-ter-vou-ter-há-de-ser-o-meu-animal-na-cidade*, com olhos de Gato das Botas à Shrek, passei com convicção ao teste e trouxe-o comigo. Com ele vinha o irmão, meio débil e prova disso, é que berrou no caminho. Tive pena mas eu só me importava com o Jinguba.
Eduquei-o, tornei-o num desses animais obedientes senta, faz de morto, rebola. Foi o mesmo que tirar o tom de pele ao Michael Jackson. Viveu dois meses. Felizes por sinal. Entupi-o de batata e pão pois o chilrear do animal era agoniante. Nunca vira um recém-nascido tão faminto. Ele voava pela casa até ao dia em que bateu patas, acenou dobrando os três deditos à pardal, e... Apagou-se. Gordo, obeso e feliz.
Assim era o meu Jinguba.
Agora, todos os dias, a partir da uma da manhã tenho um pássaro à janela. O Jinguba não era um pássaro, era um animal. Já expliquei ao dito mas pela persistência faz-me recordar o meu saudoso amendoim angolano.

(A wikipédia diz que o pardal é um animal cosmopolita.)

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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