Que morra o romance

15:11

Não suporto o romantismo, soa-me a falso.
Não esperem de mim grandes manifestações de amor, obras literárias onde morro e mato por amor. Não acredito que haja alguém, que em plena consciência, queira dar crédito a esse tipo de bajulações. Não acho piada alguma à visão de Shakespeare, tragédias incomensuráveis por amor. Não gosto de post its colados a um carro a dizer amo-te. Além de parolo não tem mérito. Já foi feito. Aqui e ali. É tudo falso, um sentimento abstracto que ninguém sabe ao certo como explicar, só sabem que o sentem a físico, as pernas andam bambas, trémulas, dá a volta ao estômago, tira horas de sono. Leva a cometer actos ridículos que passada a sensação, envergonham.
Não me ofereçam flores. Não me dediquem músicas. As plantas à terra pertencem e as letras aos músicos. Não vale a pena perder tempo a falar de mim como se fosse o bem mais precioso ao cimo da terra muito menos um olhar 37 quando me vêem. Não me façam um trilho de velas, jantar a dois e vinho. Não gosto do dia dos namorados. Puro marketing às mentes ocas. Não gosto do romantismo como movimento artístico, politico, filosófico e literário. Não me recitem Florbela Espanca. É deprimente. Ao ponto de cortar os pulsos. Não venham ao aeroporto com um lençol gigante manifestar o amor nem corram o mundo à minha procura.
Gostar de alguém é um sentimento egoísta. Fazer alguma coisa por alguém, é totalmente errado. Nunca o fazemos por eles. É conquistar. Ter o que se quer. Isso jamais pode ser verdadeiro. Sentir pelos outros é antes um reflexo daquilo que queremos no momento e o apego... O apego é uma carraça. Cola-se à pele, às entranhas e viscosidades. Fica do lado de dentro, transparente. Perde-se o apego. Perde-se o chão. Até encontrar um outro alguém a quem se diga, gosto de ti. Também.
Voltamos ao início. Manifestações tacanhas. Façanhas pelo amor. Que bonito! Ai ofereceu-me um fim-de-semana a dois, uma palestra de como fazer amor, tatuou o meu nome no peito, apagou os números das outras, fez-me uma declaração no FB para todos verem. Podres adulações. Falsas. Que sejam sinceros. Francos. Não falem do que sentem como se fosse maior do que vocês, incalculável de se acartar. A única coisa maior do que nós só mesmo o ego. Preenchido com estas medidas, orçamentais.
Esta é a verdade. Factos. Racionalidade. Os grandes antónimos do romance. Que, por favor, morra. Esse não faz cá falta. Prefiro o tête-à-tête. Cru e a nu.

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

Recebe uma carta