Canibalidade da paixão

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Às vezes sim, vejo-me a cometer um crime de paixão. Por paixão.
Em uma probidade passional mergulho e arreganho as paredes do meu ventre, subo e arranco pedaços vivos do meu ensanguentado coração. Faço-o em câmara lenta, sinto cada rasgo de dor sem me consciencializar que aquilo que dali advém, é para me ruir na canibalidade da paixão.
Às vezes sim, vejo-me a cometer um crime de paixão. Um crime que me arde nas veias, me queima por dentro e que me quer possuir descontroladamente. Palavras insensatas de veracidade vagueiam no meu espírito e caem vertiginosamente num só corpo, de dois corpos suados e colados, encostados ao rubro da emoção e exilados entre as paredes de um branco inócuo, manchadas pelo desejo carnal.
Sim. Vejo-me a morrer por paixão. No cúmulo desse pesar que arrasta correntes de ferro, que me amarra as amarguras e ali jazem ancoradas ao coração. Sufoca e perdura. Nós encostados à voz que abafam o meu grito de libertação. E eu deixo-me ficar, imune.
Saio ilesa do meu acto. Por piedade, crimes canibais de amor, têm sempre perdão.

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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