Em casa de artista

18:51

Chamou-me para almoçar.
Entre a alface, um dos poucos alimentos de cor verde que consigo ingerir, estavam aqueles pequenos tragos que me fazem regressar às minhas origens. Tudo coloria o meu prato. Mas a maior parte da cor não provinha dos alimentos. As folhas de jornal estendidas pela mesa serviam de toalha e simultâneo de palete para os óleos, aleatoriamente colocados e perdidos nas suas tampas. Ali na dança de garfadas ao prato e as pinceladas na tela compusemos uma obra de arte.
Perguntou-me se estava a gostar. Respondi, como é de costume, gosto. Riu-se da minha franqueza. Balbucio sempre da mesma maneira a minha resposta. Não lhe consigo acrescentar cor, nem emoção. Essa encontra-se esbanjada pelas paredes da minha casa, onde nas telas, antes dispostas sobre a mesa da cozinha, efeitam um pouco de mim. Se há paredes com ouvidos, as minhas têm alma.
Acabámos de almoçar. Voltámos às tarefas. A inspiração em Van Gogh surge ao de leve nas suas pinturas. Nas minhas palavras, surge aos poucos a inspiração da minha mãe.
E no final, afinal, ela também me diz com a mesma franqueza, gosto.

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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