Tudo o que quero para este Natal
14:43Tinha oito anos quando aprendi a língua portuguesa. Até lá, arranhava aquilo que para mim aparentava ser uma linguagem bizarra, que os meus familiares falavam. Muitas horas de aulas extras na terceira classe, uma medalha de honra no final da primária. Porque dei tudo o que tinha a dar para compreender as palavras de Camões. Porque debaixo do braço, agarrava-me aos livros. A todos eles. Dos clássicos de Enid Blayton à simples banda desenhada de Tim Tim. As histórias reportavam-me ao meu mundo imaginário, uma espécie de aparição do meu futuro. Ali, sentia-me em casa.
E é em casa que tenho estado. Fisicamente. Os meses passam, o tiquetaque do relógio perfura as paredes, a intensidade do tempo é imensurável. A frustração corrói a minha alma. A cabeça vive nesta clausura, safa por existir a Internet. Neste abismo abstracto dou asas à imaginação, bato à porta de sítios que dizem ter trabalho. É a minha oportunidade. Perdi o rasto da quantidade de currículos que já enviei. Bem sei que apenas alguns lhe deram atenção, ainda assim, por um motivo ou outro, não correspondi aos critérios. Gosto de abusar, nestas situações, de frases feitas «porque não tinha de ser», só porque fazem sentido.
É Natal.
À minha volta vejo as pessoas de mãos abertas para receber e fechadas para dar. Eu tenho a minha aberta para dar, dar o meu melhor. Peço apenas, sem pudor, que este ano no meu sapatinho me caia o melhor presente de sempre. Um emprego. E de preferência naquilo que nunca, jamais, hei-de desistir - jornalista. Para continuar a dar de mão aberta aquilo que nasci para ser.
Ps: A todos um Bom Natal porque este é o melhor que eu hei-de ter.