Ode ao baixinho de Luanda
11:19Sem ofensas, Papi, mas somos baixinhos. Coisas da genética.
Eu não precisava de ter lido esta notícia para perceber determinadas dinâmicas da relação pai-filhos. Há imagens que ficam tatuadas na nossa memória, como a primeira vez que vi a minha bicicleta cor-de-rosa (sim porque eu na altura adorava o rosinha) ao virar a esquina do prédio onde viviam os Iten, eu vinha lá do fundo do nosso jardim ao pé da estrutura de betão onde gralhávamos a nossa espiga de milho, a flutuar de tanta alegria por receber um presente como aquele.
Também não me esqueço do nosso primeiro computador lá na salinha do condomínio que fazias questão dizer "não podem mexer" e claro que a Lara obediente como sempre foi, dominou aquilo em pouco tempo. Ficávamos horas sossegadas a jogar Packman mas sempre com o olho no prego e outro na ferradura para não sermos descobertas.
Lembro da maneira como embirravas comigo por ser demasiado parada para o teu gosto, não participar em nada, não ajudar, não dar contas da minha vida porque de pequena já era nariz empinado, convencida que sabia tudo.
Adorava a maneira que nos agarravas na mão quando íamos dar um mergulho no mar e depois nos soltavas, deixavas-nos ganhar confiança sozinhas nas ondas. Não me esqueço da quantidade de vezes que fui e vim enrolada a verter água salgada e areia por tudo quanto era sítio. E o ski... Primeiro na neve e depois na água. Ambos desde muito miúda. És um excelente professor, paciente pelas valentes quedas que dei antes de o conseguir dominar e insistente por saberes que conseguia fazer melhor. Idas ao estádio da Luz, grandes traduções do vocabulário futebolístico e mesmo assim não apanho tudo como a mana, caminhar todos os dias (ou quase) ao fim da tarde para queimar calorias e desentupir veias. Deixaste-me tirar o carro do stand novinho em folha. E esqueceste-te de mim à porta da Católica, agora rio-me mas na altura fiquei mesmo frustrada.Tenho uma lista completa de boas e grandes atitudes. E a cereja em cima do bolo, são as tuas palavras na minha fita de formatura onde revelas o teu orgulho em mim. Copiei-te no que pude.
Falo do que conheço. Há pais assim e assado. Há pais presentes e ausentes. Cada qual com o seu feitio. A presença do meu Papi, demasiado realista para o meu gosto que compensa com o seu lado gozão, provocou-me aquele complexo de que Freud falava (calma não o de destruir a mãe para ficar com o pai) mas no sentido em que um dia vou querer um papi assim para os meus.Portanto, esse estudo para mim não é novidade. Sei perfeitamente a importância que tens. Agora és pai à distância e por correspondência. Até que tem a sua piada... Feliz dia do pai!