E agora, daqui até ao topo, é só um passinho de anão.
Liliane Marise
O mês de Agosto, para mim, era sinónimo de regresso à Suíça, numa viagem longa de carro que me permitia atravessar a Espanha nas extensas auto-estradas, um pouco da França da qual tenho a vaga memória de ver grafitis nas paredes das ruas, até surgirem os primeiros Alpes helvéticos.
Já a terra arrefecia pela manhã, distribuindo uma frescura típica de Outono.
As folhas caíam antes de Setembro e despertava em mim a vontade infantil de comprar coisas para a escola. Entre eles, Mein Freundebuch. Quandoo papel ainda era nosso amigo e o Facebook uma visão futurista, nas papelarias suíças vendiam-se "livros de amigos", onde, em cada início de ano escolar, entregávamos aos nossos amiguinhos de escola para preencher e partilhar comigo (porque o livro regressava sempre a casa), gostos e detalhes da vida de cada um. Sempre é verdade, a roda já foi inventada.
Já a terra arrefecia pela manhã, distribuindo uma frescura típica de Outono.
As folhas caíam antes de Setembro e despertava em mim a vontade infantil de comprar coisas para a escola. Entre eles, Mein Freundebuch. Quandoo papel ainda era nosso amigo e o Facebook uma visão futurista, nas papelarias suíças vendiam-se "livros de amigos", onde, em cada início de ano escolar, entregávamos aos nossos amiguinhos de escola para preencher e partilhar comigo (porque o livro regressava sempre a casa), gostos e detalhes da vida de cada um. Sempre é verdade, a roda já foi inventada.
O tempo que não passa é aquele que estilhaça fragmentos da vida, um pouco por toda a casa, aqui e ali, desarrumando. Na prática, instala o caos. Acumulas o tempo que voa, aquele que não agarras, esse mesmo que te foge pelas mãos, o que não volta atrás, o que está para vir, empilhados, uns por cima dos outros sem nenhuma lógica espácio-temporal já descoberta. Dás por ti, a pegar em cada pedaço de tempo e a tentar organizar a agenda. Este já foi, este está por vir e o pior, é o que chega sem ser chamado. Onde é que esse entra? Dão-lhe de nome quando menos esperas, pimbas, tens direito a um tempo extra, a uma vivência inédita. Para sortir efeito, temos de nos contentar com o que temos. Há quem diga que é só para alguns. Eu cá me fico com a sensação de ser especial com direito de antena ao meu tempo, o tempo de não chegar a lado algum, o tempo de ter todo o tempo e de não ter tempo nenhum.
Há factos inexplicáveis na nossa vida, como ter oito anos e ser determinada na escrita. Bem como a fantasiosa ideia de ter um objecto de culto numa madeira pendurada ao recanto da janela, cujo som ecoa pela casa à medida que avançamos nas palavras. Um culto que ambicionava desde sempre, para me inspirar na escrita, voltar à essência do papel, do reescrever sem apagar, na perfeita dactilografia de bater com veemência nas teclas datadas de 1960, de registo de propriedade da Sra. Maria da Glória. Descobrir esta preciosidade, que me alimenta a criatividade e a vontade de saber escrever, faz-me investigar o desaparecimento dos mecânicos, dos fabricantes, das peças, fitas e entendedores da matéria. Acima de tudo, das maravilhosas máquinas de escrever.
Royal, Royalite 1960 |
Última hora: Portugal morre vítima de dívida prolongada.
A minha homenagem e o meu até sempre.
A minha homenagem e o meu até sempre.
Reinam como lantejoulas e plumas nas festas exuberantes de F. Scott Fitzgeral em The Great Gatsby as críticas a esta quinta adaptação da obra literária ao cinema. Pecam pelo pouco substrato, pecam pelo arrojo da banda sonora, típica de Baz Luhrmann como lhe conhecemos pela arte do mesmo actor Leonardo Di Caprio, anos antes, em Romeu e Julieta. Seja como for, eu adversa às críticas porque nada acrescentam, creio ter visto um filme em júblio com um elenco de luxo e vívido. Até porque a obra de Fitzgerald não sendo original em conteúdo - todos já conhecemos o amor do pobre pelo rico - e como em qualquer escrita, jamais a eloquência de uma gramática, a dança da sintaxe e o ritmo jazzy (ou Jay Z) das frases poderá ser colocado em tela e isso inquieta-me a alma. Serei a única a alcançar tal feito?
Recordo-me daquela onda perfeita, direita a nós. Uma parede de água que sobe pelo horizonte acima e me dizes "rema, rema, rema" com voracidade e o meu pequeno corpo se transforma numa lontra obesa que não sabe sair do lugar. "Para a próxima rema quando eu te disser...", dizes-me num tom imperioso. E eu, lá focada no inconstante mar, me sento na prancha em exercícios inconsequentes de pilates, força e equilíbrio penso eu, realmente devia ter dado mais atenção às aulas de pilates, lá me consigo estabelecer no poder abdominal e sinto-me vencedora, agora só falta remar, remar quando me ele disser "rema, rema, rema." Ponho-me em posição de ataque, atiro as pernas para trás, contraio qualquer musculo traseiro que possua, lombar curva em sentido contrário ao costume, e remo. "Rema, rema, rema" vem de lá do outside a voz de quem sabe o que diz, e eu ponho-me a jeito para me deixar levar pela onda. É só espuma, mas na minha cabeça consigo imaginar-me em meio metro de água curva, a deslizar em velocidade crescente na grande tábua de passar a ferro. Vai tudo a eito. Até a minha queda por falta de força da onda, porque é espuma, se bem que na minha cabeça concebo ondas do tamanho nazareno, meia desajeitada em pé, que curtido, apanhei uma onda, ai que isto escorrega, será que tenho wax, e a vontade de um bate rabo é maior do que a espuma, lá vou eu, água salgada, engulo uns quantos centilitros, blhec, está salgada e tu ao longe topas-me a léguas, atiras-me com um fixe e remas de novo para o outside, num tom demasiado cool, e eu penso, caramba também quero.
Vamos lá de novo nessa lição, remar, passar as espumas, ondas, paredes de água, set, outside, hang five, hang ten, a crowd e os peixes armados em carapaus de corrida que nos ultrapassam à velocidade do mar, no boomerang do surf.
Vamos lá de novo nessa lição, remar, passar as espumas, ondas, paredes de água, set, outside, hang five, hang ten, a crowd e os peixes armados em carapaus de corrida que nos ultrapassam à velocidade do mar, no boomerang do surf.
Há momentos na vida... Em que apetece pegar, reescrever, redesenhar, refazer, reviver vezes sem conta. Porque de uma forma ou de outra merecem esse nosso esforço de constante perfeição. Há momentos na vida que só fazem sentido a dois, lado a lado, frente a frente. Para suportar os altos, os baixos, os médios e intermédios. Tudo o que possa consentir esse espaço temporal de divisão em dois. Porque dois é melhor, mais que perfeito. Onde damos o tudo por tudo, o nada como garantido, o amanhã futuro. Sonhos, momentos, ambivalências. Projectamos o que em nós escondemos, sem pudor e vamos nessa onda rodada alternando movimentos sincronizados, em que amar é a constante linha paralela.
Depois... depois perco-me nas minhas próprias palavras, embrulho-me nelas pois o desejo de permanecer aqui, colada a ti, é insano, sadio. Mantenho-me imóvel apenas a sentir o que me fazes sentir. Resume-se a este bater de coração vagaroso, de sangue bom, bombeado para cada pedaço do meu corpo a amar o teu.
Epifanias de quem ama ou simplesmente o mais puro de todos os momentos. O meu lado e o teu.
Depois... depois perco-me nas minhas próprias palavras, embrulho-me nelas pois o desejo de permanecer aqui, colada a ti, é insano, sadio. Mantenho-me imóvel apenas a sentir o que me fazes sentir. Resume-se a este bater de coração vagaroso, de sangue bom, bombeado para cada pedaço do meu corpo a amar o teu.
Epifanias de quem ama ou simplesmente o mais puro de todos os momentos. O meu lado e o teu.
"Hoje em dia conhecemos o preço de tudo e o valor de nada."
Oscar Wilde
Oscar Wilde
(o título serve apenas para atrair visitas a esta página da blogosfera. ah e também porque me sinto top of the world. por favor, não incomodar).
Na improbabilidade do homem se encontrar com o mar, é-lhe atribuído uma ferramenta de natureza, tábua rasa de salvação. Nesta sobe, chegando-lhe a adrenalina desde os pés, sentido o refresco do sal espicaçar a pele. Rompe pela onda adentro, perfurando-a, imbuído de vontade de se alienar ao poder imenso azul, cuja temperatura não arrefece o espírito. Sorri o sol ao fundo, que se estende na linha horizontal no término do mundo. Sem quer.
Onde pequenos grãos de areia, milésimas partes de uma rocha falecida, vencida pelo cansaço de lhe embater o mar, aguarda. Um desgaste de novas esperanças, compondo este cenário de paraíso vital à vida do homem de tábua rasa de salvação.
A quebra da onda. O recomeço do mar. A vitória de quem nele sabe surfar.
Onde pequenos grãos de areia, milésimas partes de uma rocha falecida, vencida pelo cansaço de lhe embater o mar, aguarda. Um desgaste de novas esperanças, compondo este cenário de paraíso vital à vida do homem de tábua rasa de salvação.
A quebra da onda. O recomeço do mar. A vitória de quem nele sabe surfar.
Mar de Nazaré
A propósito de uma entrevista que estou a editar, dou por mim a ver em agenda o tema da motivação. Ao que parece, este insólito país sofre de um distúrbio psicológico crónico, já que não marcha nem para a frente nem para trás, e se intitula de motivação.
E a esta falta, crescem os maus exemplos de civismo, inteligência e coerência.
Querem ver que a motivação emigrou para trazer bons augúrios ao pequeno Portugal?
E a esta falta, crescem os maus exemplos de civismo, inteligência e coerência.
Querem ver que a motivação emigrou para trazer bons augúrios ao pequeno Portugal?
Reza a lenda que sonhos não se realizam. Uma lenda triste e chorosa. Porque quis o destino cumprir outros destinos e não aquele a que nos propusemos. Diz a lenda, que os sonhos são para os tolos, esses que ignoram a realidade e vivem saltitando entre folhas de nenúfar soprados pela leveza de uma brisa.
Há depois outras histórias, outras lendas. Aquelas que ouvimos e nos fazem acreditar, imbuídas de brilho e felicidade. Porque conseguiram. Não ousaram fórmulas mágicas nem inventaram caminhos nunca dantes percorridos, simplesmente acreditaram no poder dos sonhos.
Pega no lápis e no papel e faz sonhar o sonho que anseia brotar de ti. Desenha hoje os alicerces do teu amanhã, sem receio de os emendar.
Por me pedires, aqui te deixo as doces palavras. Porque vingo em mim este sonho de escrever, o meu limbo, a minha perdição, o meu rasgo de felicidade.
Aos vinte e oito anos, na recta final, surge o primeiro ciso. Estou de luto pelo Peter Pan, vou deixar de ser criança.
Li algures um artigo sobre uma jornalista escritora que sobrevive em Portugal nesta área. Os pequenos apontamentos fizeram-me regressar ao meu objectivo inicial, de sempre, aquele que originou este blogue e tantos outros projectos que colaboro e desenvolvo: escrever.
Não há língua mais consistente, sonora, lírica do que o português. Orgulho-me de poder escrever e sabê-lo fazer com a homenagem que merece.
E é nesta profissão suicida, que faz o caminho que as linhas percorrem, que canta sem saber muito bem os tempos verbais ou as incoerências da gramática, ou até mesmo nessa nova ortografia à qual não me consigo ainda habituar. Hei-de viajar nas palavras anotadas, nos pensamentos dispersos, na profundidade das questões para ser feliz e realizada com sou, sempre, que faço isto.
Amo a escrita em português, que viajou além mares, inspirou Camões e envaideceu os intelectuais que compreendem Fernando Pessoa.
Este é o meu juramento, o meu compromisso. O meu casamento ad eternum.
As Azevias da Avó Tila from Cenjor on Vimeo.
afinal há esperança.
ao que parece, as maçãs podres de alvalade afinal dão frutos...
Ao contrário das pepas e bloguistas de moda, eu apenas desejo sucesso para o projecto Studio Roulette.
A Carpinteira from fernando piçarra on Vimeo.
A Carpinteira from fernando piçarra on Vimeo.
Não ter medo do mar.
Nada mais do que 0 1 2 3...