fresco de verão

22:11

Não sei se a brisa quente que rompia pela janela era mais quente que o seu corpo colado ao meu. Aliás, nós produzimos invariavelmente um microclima anatómico, faíscas, brasas, ardentes entre beijos e o desejo de sempre pertencer. Assim, aquele vento quente, leve, sobrevoava o nosso corpo, desenhava os contornos da nossa composição e enriquecia esse calor, por nós gerado. Por incrível que possa parecer, a cama permanecia sempre à mesma temperatura. Pouco trocamos em palavras. Os gestos foram mais intensos. Invasivos. Ao ponto de serem reais, palpáveis. Pu-los, agora, ali na estante. Como troféus. Dá-me prazer... Contemplar por tempo indeterminado a fugacidade das relações. Tanto são, tanto estão como acabo livre. Esta vontade de ser por inteira, intrínseca aos meus desejos egoístas, sem entrega divina, daquelas cláusulas fantasiosas de amor verdadeiro, fábulas dos tontos contos.
O corpo não arrefece a temperatura. A brisa, atrás do vidro reluzente, aguarda, por uma nova oportunidade de entrada. Diz-se que água mole em pedra dura... A, mim, só cura.

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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