Rimas matinais

10:58

7h03 da manhã. O despertador ainda nem soltou os uivos matinais, Maria Alice já está de pestana aberta. As persianas, perras, ficaram entreabertas por onde espreitam os raios da bola gigante a quem todos apelidam de astro. Incomoda.
7h07 da manhã. Dá-lhe um acesso de loucura por acordar cedo demais, nem as rugas estão psicologicamente preparadas para se enrugarem de novo. Atira-se à preguiça, envolve-se numa luta digna de um ringue de boxe. Obviamente que acaba por vencer. Começa a pensar no que a fez acordar. Olha para o lado. Lá estava, o culpado de tudo. Há sempre culpados, e neste caso, ele era o responsável pela noite mal dormida.
O maldito perturbou o sono de beleza, interrompeu as longas horas de reposição e renascimento de todas as células do corpo. Atrofiou-as com a sua presença. Como era possível ter tanta influência na sua vida? Sem pudor, agarrou-o com firmeza e xingou-lhe o juízo. Em rima. E quis respostas. Aliás, exigiu-as. Mas àquela hora quem sabe responder aos versos do coração? Por maior que tivesse sido a sua tentativa, falou somente para um espaço inócuo. Era cedo demais. Ele ainda estava a dormir. Depois daquilo obviamente que não se podiam voltar a falar assim. Desta vez requeria algo mais. Um frente-a-frente. Honesto. Pegou então no dito que lhe roubou o descanso nocturno e entrou no menu, seguindo-se as pastas das mensagens. Lá estava: miúda, nunca te esqueci.
Com mil raios e coriscos, o homem perdera a cabeça. Para Maria Alice isto não fazia sentido algum. Meses de ausência comunicativa culminavam naquilo, naquele sentimento de borboletas no estômago, pernas bambas e sorrisos sem nexo a meio do dia quando se bebe a bica.
07h14 da manhã. Segue para o banho. Adivinha-se um dia rítmico, bem humorado. Valeu a pena perder o sono e acordar com o galo afinado.

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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