prostituição da alma

01:53

Demónio. Não sei o que vêem em mim. Devem ser facilmente impressionáveis. Morro de desgosto, agradar com tamanha leveza. A falta de exigência. Rigor. Valor.
Não concebo. Não vou conceber dentro e fora do conceito. Sou vazia, perdida, gasta. Ainda assim. Casados e pensam em mim. Maduros e têm tesão por mim. Que alma velha habita aqui dentro? Quem deseja esta decrépita, caída de amargura, com máscara de oxigénio pendurada ao peito a tentar engordar falsamente o pulmão? Porque cá dentro não habita esse pedaço de carne que vislumbram no sexo. O meu corpo é só corpo enquanto assim o vale. Traços definidos, seios rígidos, estômago soprado pelo vento, ancas balançam. Pernas destemidas.
E falam, falam, pedincham. Atiram-se ao chão. Querem e agarram à força. Nada sinto. A ninguém pertenço. Será que não entendem? Peçam mais. Queiram mais. Traiam-me, deixem-me, enganem-me. Não vos quero, não vos desejo, não vos sinto. Não passam de vermes. Cubram-se com essa terra que vos ergue, enfiem-se nesse cemitério, ponham de fora a roupa, sejam prostitutas.
Livre. Vivo longe. E ainda assim me querem. Os de hoje, os de amanhã, os de ontem.

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

Mais lidos

Recebe uma carta