A ponderar sobre modernices

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Ter relacionamentos a partir da realidade virtual, faz parte desta era.
Estar agarrada ao telemóvel na esperança de que um alguém, um dia vai ligar e desligar-te do mundo, faz parte desta era.
Viver ansiosa para ter uns dias de descanso num SPA, faz parte desta era.
Ser mulher independente, faz parte desta era.
Chegar a casa pela manhã depois de uma noite louca, faz parte desta era.
Viver tudo muito mais depressa sem ter tempo para apreciar, faz parte desta era.

Por estas razões e por outras, que eu às vezes me irrito com esta era.
Conhecer alguém na rua, é quase impensável. Trocar um olhar e sentir qualquer coisa sem lógica, é errado. Porque aquele olhar é dúbio, porque é alguém que vive com outro alguém, mas no fundo não se sente satisfeito nessa mesma relação. Procura então no vazio da sua vida algum preenchimento, sem coragem de abandonar crenças e convenções e atirar-se de cabeça.
Porque no fundo o que gostava era de receber uma carta desenfreada de amor. Porque gostava que o carteiro me a entregasse e me fizesse dar um sorriso de orelha a orelha. Mas já não há tempo para escrever cartas. Nem as pessoas têm uma caligrafia legível, só se for feita no PC.
O cansaço domina os nossos dias. Poucas são as pessoas que dedicam o seu tempo aos outros depois de uma semana intensa de trabalho. Queremos silêncio e sossego.
Porque nem sempre me apetece suportar o mundo sozinha, ser feita de ferro, não chorar, perceber que é mais uma lição de vida, seguir em frente cada vez mais insensível. Sabia bem ter um ombro, um colo, um lar, um alguém que não confunda cavalheirismo com machismo.
Sair sempre que há uma hipótese, porque vemos outras pessoas, socializa-se, dança-se, bebe-se um copo... Para que às 8h00 da manhã, se vá para casa com os amigos do costume com uma paragem no pequeno-almoço e se relatar os diversos sucedidos nocturnos. Ele viu-me, não me falou, estava lá com a outra, viste, não mudou nada e pensa que me pica assim. A frustração deita-se connosco numa manhã mal dormida porque o Sol espreita pelas persianas e incomoda, mas não tanto como o facto de não me ter esbarrado com "o Tal".
Parar o relógio e saborear esse momento. Não ter pressa para o acabar porque o desfecho dessa circunstância pode não ser o mais feliz, por isso, é melhor despachar, assim não há espaço para o sofrimento.

Não sou a única a pensar desta forma. Também não é um mau-estar geral. Coisas que acontecem. Porque a era de hoje é mesmo assim.

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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