O cancro da indiferença
12:43Ninguém percebe. Estão todos demasiado encafuados na vidinha que possuem. Para lá de fronteiras em analisar e pensar sobre o que for. Está tudo com muito pouco tempo, tempo ridículo, tempo para conseguir reparar seja no que for, de que isto não é fácil, que é uma dor só minha, ninguém a sente por mim, ninguém a substitui e ninguém estende as mãos para acartar comigo o peso pesado deste cinto de campeã. E tudo carece desta compreensão de que para uns tudo segue em frente para outros é preciso ser bom piloto de rali pois temos curvas, contra-curvas, incessantes obstáculos, distantes obstáculos que conseguimos alcançar antes de lá chegar, tudo é tão a jeito, nunca para quem está no outro lado da estrada, que leva com a dor, a dor que pesa e se arrasta e desliza a gélida água pelo rosto, porque é assim a dor, fria, cortante, desconcertante, pesada, sempre demasiada pesada para alguém pequeno como eu, que vive com agulhas nas veias, substâncias químicas a percorrer o sangue, que luta e pede ajuda e ninguém, ninguém mesmo consegue entender o que é essa dor, de se definhar aos bocadinhos, devagarinho.
Ainda assim, te tenho em pensamento.
Terias 28 anos.