Anatomia da vida
21:32Não me lembro de ter escrito sobre algo sério e sóbrio. Não me recordo de ter recorrido a palavras frias e incisivas para me debruçar sobre a inevitabilidade da vida. Quero manter-me leve e fresca, a vida, essa vagabunda, já faz questão de revelar o seu lado mais sombrio, aos poucos, no dia-a-dia.
Vejo romenos a regressar a casa.
Vejo os portugueses a chorar.
Vejo tempestades a embrulhar o mundo num desconforto perpétuo.
Vejo acidentes de carro, provocados pela falta de civismo.
Vejo idosos na solidão.
Vejo os sem-abrigo deixados ao frio.
Vejo animais abandonados.
Vejo lixo na rua.
Vejo desperdício.
Vejo o materialismo das pessoas.
Vejo a separação.
Vejo a queda.
Vejo muros de Berlim em redor das pessoas, inatingíveis.
Vejo lágrimas.
Vejo órfãos.
Vejo saldos e os portugueses a comprar.
Vejo contas de poupança para o amanhã.
Não vejo ninguém a viver o hoje como o último dia.
O meu avo paterno, entre outros ensinamentos, disse aos seus «mais vale ter hoje, do que gastar amanhã na farmácia». Projectamos tudo para o nosso futuro, e quando o temos, que é hoje, este momento, não o agarramos porque tomamos o tempo como algo garantido. Como se o amanhã tivesse importância. Mais do que o agora.
Vivam mais.
Preocupem-se menos.
Sejam arrojados.
Gastem o que vos apetecer.
Não façam dívidas.
Viajem.
Instruam-se.
Leiam.
Libertem-se de preconceitos.
Contem histórias.
Sejam amigos.
Procurem novos desafios.
Encarem os problemas de frente, tudo tem solução.
Aceitem o destino, mas nunca deixem de acreditar.
Tenham fé.