a devida comédia

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Diria exatamente o mesmo que Driss, matava-me no teu lugar. Vai daí, que até isso, para um tetraplégico, é difícil.



















Seria impensável viver dependente de outrem para concretizar as tarefas mais básicas do dia-a-dia. Mas no fundo somos todos dependentes uns dos outros. Essa mensagem sublime, entre as 302 gargalhadas bem dadas ao sabor de Intouchables, foi a que fitou a minha memória. Porque dependemos deles, dos amigos. Dos estranhos que se tornam amigos. Da família, da companhia, da cumplicidade. Da mera presença.


Incontestável devida comédia de Eric Toledano e Olivier Nakache. Como desmistificar a sensibilidade com que se olha perante um tetraplégico, sem se abraçar o sentimento de pena ou piedade, é o que a dupla francesa transpõe para o cinema.
Phillippe, um milionário, após uma queda de parapente nos Alpes, fica imobilizado. E na imprevisibilidade da vida, surge Driss, perito em assaltos, que revela ter os braços e o espírito em falta. O complemento das duas personagens confere uma graciosidade na tela, apelativa até aos mais insensíveis, e em consequência, os surtos de risos amplos numa sala de cinema. Honesto e brutal, liberta a mais tola piada sem nunca deixar de ser tocante. A hábil dança entre o melodrama e a comédia dão origem a cenas brilhantes, acompanhadas por uma fotografia e banda sonora assertiva, onde o dinamismo entre os dois atores - François Cluzet e Omar Sy - transforma as duas horas de película numa narrativa a não perder.

Apenas se lamenta que esta obra-prima se tenha ofuscado pelo seu conterrâneo 'O Artista', demorou demasiado tempo a sair da casca, ainda assim, sempre a tempo para um público ávido por boa disposição. Quiçá, com os Estados Unidos da América atentos ao crescente fenómeno de cinema europeu, os 'Amigos Improváveis' ganhem a merecida visibilidade.

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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