a devida comédia
16:23Diria exatamente o mesmo que Driss, matava-me no teu lugar. Vai daí, que até isso, para um tetraplégico, é difícil.
Seria impensável viver dependente de outrem para concretizar as tarefas mais básicas do dia-a-dia. Mas no fundo somos todos dependentes uns dos outros. Essa mensagem sublime, entre as 302 gargalhadas bem dadas ao sabor de Intouchables, foi a que fitou a minha memória. Porque dependemos deles, dos amigos. Dos estranhos que se tornam amigos. Da família, da companhia, da cumplicidade. Da mera presença.
Phillippe, um milionário, após uma queda de parapente nos Alpes, fica imobilizado. E na imprevisibilidade da vida, surge Driss, perito em assaltos, que revela ter os braços e o espírito em falta. O complemento das duas personagens confere uma graciosidade na tela, apelativa até aos mais insensíveis, e em consequência, os surtos de risos amplos numa sala de cinema. Honesto e brutal, liberta a mais tola piada sem nunca deixar de ser tocante. A hábil dança entre o melodrama e a comédia dão origem a cenas brilhantes, acompanhadas por uma fotografia e banda sonora assertiva, onde o dinamismo entre os dois atores - François Cluzet e Omar Sy - transforma as duas horas de película numa narrativa a não perder.
Apenas se lamenta que esta obra-prima se tenha ofuscado pelo seu conterrâneo 'O Artista', demorou demasiado tempo a sair da casca, ainda assim, sempre a tempo para um público ávido por boa disposição. Quiçá, com os Estados Unidos da América atentos ao crescente fenómeno de cinema europeu, os 'Amigos Improváveis' ganhem a merecida visibilidade.