lisboa de naufrágios

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Um céu de arromba, braços largos curiosos como se fossem sufocar a cidade inteira. E sufoca. Brilha, ofusca no alto, reflecte-se na manga azul que rompe Tejo adentro. Os navegadores vão atrapalhados pela branda entrada, a falta de uma ponte e um deserto do outro lado. Aguardam relutantes pela ondulação, não conhecem o sentido estático durante meses a fio. A pele espelha o sol denso penetrante, que sem pedir licença, se alojou células cansadas. No braço esquerdo, ainda que proveniente de outra moda, a pin up tatuada. Falam como vem nos livros, mergulhados na dicção de Camões, ancorados ao passado, mas com arrojo singular para desbravar os tais mares nunca dantes naufragados. Adiantam-se nos passos. Mais à frente, prédios quadrados e largas avenidas que contrastam com becos, ruas e ruelas empilhadas, obra de Deus diriam uns ou maus arquitectos nas palavras do Marquês. Antigos armazéns transformados em casa de frescos para quem chega dos oceanos, alma lavada e comida temperada. Envelhecido Cais do Sodré. Tenta renascer como capim em telhas caídas na calçada. Nesta tumultuosa bolha, ergue-se Lisboa. De Liberdade escancarada, de céu azul envaidecida, a cor que não lhe resiste, brinda pela história o gosto pelo cair da manhã. No brotar do dia, os navegadores entorpeciam-se após afazeres incestuosos. E hoje, pela manhã, jovens vagabundos rasgam de um lar Frágil para um Lux luminoso. Perdeu-se o gosto pelo mar, ganhou-se no sabor de saber onde ancorar. 

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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