Nas asas do avião

11:56

Olá Maria.


Estou a chegar a Lisboa, no voo da noite. Como não tenho muito para fazer aqui fechada neste avião, decidi escrever-te. Estes dias, quando cheguei a Basileia, diverti-me muito contigo. És uma bebé inteligente, cheia de vida. Sorris-me muitas vezes. És de sorris fácil como eu. Retribuo sempre. Adoro ter-te por perto, acordar à noite e ver-te a dormir, tranquila na nuvem dos sonhos ingénuos, os teus pais deitaram-me ao teu lado no pequeno colchão das visitas. És castiça: dás a volta ao mundo no teu berço, tens pinta de exploradora. Vê-se se no teu olhar. Atento e curioso. As pessoas na rua dizem que és uma bênção, uma miúda perfeita. Sorris-lhes sempre. Todos retribuem. Falo contigo não em tom infantil porque és crescida já, o que tens de pequena são as fraldas e o leite que não prescindes. Ah, também és bebé quando te dá a birra do sono e tens os olhos lavados em lágrimas, mãos ao alto, trémulas. Despedaças-me o coração, sabes? Não suporto ver-te chorar. Tento acalmar-te, só que só queres o colo da tua mami.

Depois, começo a imaginar-te daqui a um ano, como serás, o que irás descobrir, fazer e querer. Mas para já guardo para sempre estes cinco dias dos teus cinco meses. Terei sempre o teu perfume cravado no meu cérebro. Sabes o que me fizeste assim que me viste pela segunda vez? Estendeste-me a mão e tocaste-me na face. Que momento de ternura. Pergunto-me se me reconheceste. Sou a tia cool de Lisboa. Pedi à minha irmã para te trazer, só por uns dias, só por um bocadinho, custa horrores separar-me de ti, mas felizmente ainda não descobriste a saudade. Um dia explico-te.

O teu avô vai dois lugares atrás no avião. Já chora de saudades.
Vamos aterrar.

Falo-te no skype.

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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