Vim mal preparada, nem mochila trouxe. Disseram que estava tudo marcado para as 12:12:12 do dia 12 do mês 12 do ano 2012. Cheguei atrasada... Não de meu costume, mas é tudo demasiado intenso. Sentei-me no lugar 12, na carruagem 12. Já estava cheio, tudo apetrechado de coisas e mais coisas, tralhas e bagagens de vidas inteiras, algumas até se vertiam, escorriam pelas linhas do comboio de tão atafulhadas que estavam. Ajeitei-me como pude no meu lugar, encaixei-me assim pequenina, peça de puzzle em falta. Arrancou. Sem apito, guizo ou som estridente. Até suave foi. Pela brevidade da situação, quase que aproximei a realidade aos comboios alpinos.
Gare do Oriente. Então lá fomos todos, sem grande personalização. O silêncio foi reconfortante, vi no rosto da senhora que se cruzava com a minha alma, o receio. Quis lá entrar nesse vigoroso sentimento, atraiu-me como abismo, para tentar captar a negatividade. Experimentar antes de mais qualquer coisa, o meu avô sempre disse para não perecer estúpida, isenta de conteúdos. E os negativos, nisto, são substanciais.
À medida que o comboio avançava, a cidade desconstruía-se lentamente nas nossas costas. Peça a peça, deixava-se mergulhar em sofreguidão pelo inferno adentro. A poeira empoleirava-se, entre a qual a fortaleza do sol tentava romper, bélico. Cheguei a ver, creio eu, anjos brancos repletos de penas esvoaçantes de arco e flecha empunhados a cavalgar naquele que é o princípio dos tempos.
O grito de libertação aproximava-se.
Doze segundos.
Sentimos a vivacidade do desespero na pele, ali ainda perto do destino de partida. Apurei a audição, centrei-me nos ruídos que fugiam da nossa direcção, decifrando mensagens encriptadas das vozes de frustração. Pesava no ar, o choro inconsolável da perda, sufocante. A casa que sempre vivêramos foi-se, sem intervenção divina ou qualquer plano de salvação nacional. E cheguei eu atrasada para isto.
Nem mochila trouxe.
Gare do Oriente. Então lá fomos todos, sem grande personalização. O silêncio foi reconfortante, vi no rosto da senhora que se cruzava com a minha alma, o receio. Quis lá entrar nesse vigoroso sentimento, atraiu-me como abismo, para tentar captar a negatividade. Experimentar antes de mais qualquer coisa, o meu avô sempre disse para não perecer estúpida, isenta de conteúdos. E os negativos, nisto, são substanciais.
À medida que o comboio avançava, a cidade desconstruía-se lentamente nas nossas costas. Peça a peça, deixava-se mergulhar em sofreguidão pelo inferno adentro. A poeira empoleirava-se, entre a qual a fortaleza do sol tentava romper, bélico. Cheguei a ver, creio eu, anjos brancos repletos de penas esvoaçantes de arco e flecha empunhados a cavalgar naquele que é o princípio dos tempos.
O grito de libertação aproximava-se.
Doze segundos.
Sentimos a vivacidade do desespero na pele, ali ainda perto do destino de partida. Apurei a audição, centrei-me nos ruídos que fugiam da nossa direcção, decifrando mensagens encriptadas das vozes de frustração. Pesava no ar, o choro inconsolável da perda, sufocante. A casa que sempre vivêramos foi-se, sem intervenção divina ou qualquer plano de salvação nacional. E cheguei eu atrasada para isto.
Nem mochila trouxe.
Roubo-te o Mac por uns instantes, sei que também não te vais importar, deixas-me entrar na tua vida de olhos fechados, é por uma boa razão, preciso de te escrever como fiz em outros tempos mais dedicada as lides do teclado, mas hoje, por diversas questões sentidas e faladas, roubo-te o Mac por uns instantes.
Liguei o aquecedor, o nosso escritório já arrefeceu, talvez pela falta do teu calor, vejo o sol tímido já longe debruçado sobre o mar azul e calmo, onde tu estás a fotografar. Convidei-o a entrar, espero que não te importes, abri os estores até cima para romper a luz do dia pela casa adentro, fica melhor, mais lúcida e aquece-me os dedos enquanto aqui estou.
Penso muito em ti, em nós. Sou redonda no pensamento tal e qual o mundo que gira sobre si próprio, tenho essa necessidade, de reflectir, pensar, pairar, circulatório, porque não saio desta redoma de te amar, talvez assim, incondicionalmente, talvez sem definir pois não lhe arranjo forma nem formato, abstracto, mas está presente em cada instante do pensamento. Digo-te vezes sem fim que sou de palavras, aqui escritas, desenhadas pelas suas curvas e intensidades, e é assim que nos sinto na ausência do dia, na desenvoltura da verbalidade, deixo a música escorrer no intelecto e recordar quando te pedi para te entregares na água de música clássica, entregaste-te plenamente, no sentido literal, às minhas mãos, deixaste ir, confiaste em mim, sem medos ou anseios, porque estou aqui. Não parti.
Peço ao silêncio para tomar conta de mim, porque me protege não me torna vulnerável, onde pondero cada instante do nosso viver, sinto a tua falta, volta para mim, não te demores no mar, roubei-te o Mac para te escrever até doer o meu pulso que ainda não sarou. Escrevo-te por seres a minha metade, o meu sentido, a minha seta, o meu enter, backspace, vírgula, ponto final parágrafo.. Uma transferência de pensamento, assim me situas, entendes, compreendes.
Liguei o aquecedor, o nosso escritório já arrefeceu, talvez pela falta do teu calor, vejo o sol tímido já longe debruçado sobre o mar azul e calmo, onde tu estás a fotografar. Convidei-o a entrar, espero que não te importes, abri os estores até cima para romper a luz do dia pela casa adentro, fica melhor, mais lúcida e aquece-me os dedos enquanto aqui estou.
Penso muito em ti, em nós. Sou redonda no pensamento tal e qual o mundo que gira sobre si próprio, tenho essa necessidade, de reflectir, pensar, pairar, circulatório, porque não saio desta redoma de te amar, talvez assim, incondicionalmente, talvez sem definir pois não lhe arranjo forma nem formato, abstracto, mas está presente em cada instante do pensamento. Digo-te vezes sem fim que sou de palavras, aqui escritas, desenhadas pelas suas curvas e intensidades, e é assim que nos sinto na ausência do dia, na desenvoltura da verbalidade, deixo a música escorrer no intelecto e recordar quando te pedi para te entregares na água de música clássica, entregaste-te plenamente, no sentido literal, às minhas mãos, deixaste ir, confiaste em mim, sem medos ou anseios, porque estou aqui. Não parti.
Peço ao silêncio para tomar conta de mim, porque me protege não me torna vulnerável, onde pondero cada instante do nosso viver, sinto a tua falta, volta para mim, não te demores no mar, roubei-te o Mac para te escrever até doer o meu pulso que ainda não sarou. Escrevo-te por seres a minha metade, o meu sentido, a minha seta, o meu enter, backspace, vírgula, ponto final parágrafo.. Uma transferência de pensamento, assim me situas, entendes, compreendes.