amor velho

22:08

Contorcida, deitada, nua, no chão. Ali inerte, jazida, pele fragmentada pelo gelar do mármore, um coagular de sangue, aos poucos. Crava as unhas no peito, rasga mais um pouco da sua ferida aberta, o amargo da bílis sobe-lhe à boca, o nó desfaz-se e sai-lhe esse arroto moribundo, tortuosamente, a conta gotas. Apetece-lhe um cigarro, queimar-se por dentro, atear fogo no glaciar que se instala, frente fria. Arrancar à força as entranhas. Sentir expressamente neste seu corpo, emagrecido, a dor abstracta que o ar sustém. Aqui, ali. Nas paredes, na sala, na cama, no chão. O cheiro ainda fica, por tempo indeterminado. Pede o extermínio absoluto de qualquer memória, vai ao armário e procura ácido fénico. Detonar o rastilho que leva tudo de volta até si.

Pega no branco imaculado, em movimentos flutuantes move o corpo, ténue tentativa para dançar o último beijo. Abraça as lágrimas que escorrem no rosto demarcado pela grotesca tristeza, aprofunda o cinzento do verde olhar e mergulha na velha depressão de saber amar. 

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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