IP3 cortado

21:40

Entro no carro. Cheira a novo. Não conheço bem a caixa, sorte a minha estar habituada a movidos a diesel. Também não deve ser assim tanta a diferença, questão de hábito, digo eu. Olho para o conta quilómetros. 13. O número da sorte do meu avó. Bateu botas a uma sexta-feira, 13. Sempre foi a sua escolha e eu sigo-lhe os passos nas certezas da minha vida. Sigo a rota do GPS, diz-me que tenho três horas e dois minutos de estrada. Vou fitá-lo e corto pelo IP3. Mas isto funciona de igual na vida, quando a queremos fitar para desviar encontros e caminhos perversos, acabamos por levar mais tempo. Está em obras, levo o dobro para percorrer os 76km entre Viseu e Coimbra. Desfilo devagar pelo Mondego. Mato saudades, aliás descubro nesse instante que as tenho, talvez desse tempo em que por lá vivi. Via, do outro lado da minha estrada, o Mondego, sempre frio, sempre escuro, sem nunca convidar a mergulhos. Vou fixa nesse mesmo recordado Mondego, saio frequentemente das marcas de estrada, o som irritante da berma transforma-se numa melodia pálida e cinzenta. Nem o verde de Vila Nova de Poiares alegra os vagabundos nas rodas.
Sigo só. Tento sintonizar a rádio, acabo por ceder ao CD que gravei antes de embarcar. Olho, como de hábito a qualquer condutor, para o carro vizinho. Talvez na vulnerabilidade de encontrar um vazio como o meu. Mas vai tudo cheio, carregado de matriculas estrangeiras. Estão só de passagem. Sigo a rota. Levo mais hora e meia que o previsto.

Sushi do Dia

A nossa visão só se torna clara quando conseguimos olhar para dentro de nós. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.
Carl Jung

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