Gosto de ver a carapaça de bom rapaz caída. Gosto de te ver nu como quando sais do banho, como te incomoda a pele molhada que não seca com a toalha tosca que usas. Gosto de saber que foges como um rato de um gato, que te incomoda a minha presença. Só de ouvires falar, arrepia-te a espinha e fazes o olhar fixo, aquele vazio trémulo de pupila dilatada. Não transmites nada. Gosto de te ver por inteiro, ainda que à distância agora. Mas vejo-te como és. Caiu-te a máscara como caiu com todas as outras mulheres que hoje te desprezam. E com razão. O teu maior medo é seres confrontado pela nulidade que és. O exagero de simpatia que impregnas aos outros. A forma como acreditas no potencial de cada uma. Porque tens um dom e tens tudo para o desenvolver, dizes tu. A todas. Até te ofereces para trabalhar em conjunto, fotografar. Os convites para ir aos lugares mais inóspitos e invulgares, as pequenas aldeolas, restaurantes tascas, vagueias pela noite sem nunca dar um beijo ou a mão nas ruas da cidade que já dorme, pela falta de afeto que sempre tiveste por parte dos teus pais. Aquela que se deita ao teu lado e nunca merece um comentário no Facebook porque não te expões, fazes pela calada. Não apagas os amores do passado, ficam lá como obras póstumas de quem mataste por dentro. As ondas que apanhas e não queres partilhar, a roupa que não engomas porque não é a tua. A única coisa boa da tua parte é partilhares o prato em que comes, com ela e com as outras. Fazes isso com a maior exímia que já conheci.
Dá-me especial prazer saberes que sei, sei quem és, como ages, como te escondes, com quantas trocas mensagens, com quantas te deitas naquela cama, com quantas enganas quem te ajudou a enganar. Dá-me um gozo, equivalente ao orgasmo se quiseres compreender a dimensão do prazer que sinto, esse azedume que tens quando te recordas de mim. Estou em toda a parte, não como peso de consciência pois essa sempre a tiveste, mas sim como âncora que te arrasta a máscara para o fundo e revela quem és. Entras em pânico só de imaginar que te cruzas comigo, que partilhe com o universo o ser que és. E aquilo que realmente não és. Nem nunca serás.
E o melhor, é esta doce vingança. Nem preciso de mexer uma palha.