Bate forte quando bate, enrosca-se no rochedo. E embate com toda a certeza que não faz ricochete, mas faz e espuma-se de raiva, volta a bater. Bate, bate, bate com fúria percorre em ascensão se for preciso, mas bate decidido. E quando há o embate, não há força na natureza que não esmoreça, nem pedra que não amoleça. Este vai e vai inconstante de quem quer provar o que não pode, este vagar de filamentos assertivos. Assim é o mar. Assim é o coração. Bate, bate, bate até mais não. O que importa é que continue a bater. Bate, bate, bate coração neste teu mar de paixão.
"Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar."palavras do meu amigo MEC, in"Último Volume"
Lembro-me do dia, esse o do mergulho azul, lembro-me agora mesmo enquanto a água me escorre pela alma adentro, sei porque vi no futuro o presente. Sei porque te foste e não mais quiseste voltar, sei porque ainda me questiono com o que faço nestas horas vagas de lume sem braseiro, num conta-gotas de minutos onde cabem momentos infinitos de melodias desamparadas. Sei porque sei porque o vi e senti muito antes de acontecer, premeditado da tua parte, esse devaneio de carne fraca, fraqueza de espírito que nos caracteriza tal como cães que focinham a terra em busca do odor que responda, sei disso e de tudo o mais o que perturba a alma, sei. E lembro-me, com uma mágoa profunda, uma âncora que arrasta o coração e eu peço liberta-me vida, deixa-me longe de tudo que é este mergulho azul, mas a corrente teima em levar-me para o fundo, profundo. E aqui estou, presa, sentida, mas viva. A respirar por guelras. A adaptar-me ao mergulho azul, que eu tanto não quis ter, experimentar, sentir. Lembro-me. Pedi vezes sem conta vida para não me levares, não me leves, peço-te mas afogaste-me sabendo que sei nadar, afogaste-me. Logo eu, vadia sem jeito, fui nesse corrupio de doçura melancólica, reviravolta do tempo que andou para a frente e não para trás, estou agora aqui naquele que é o futuro, o meu, sem o teu.